sábado, 29 de novembro de 2008

História da Maconha

Aspectos históricos
A canábis é consumida pela humanidade há cerca de dez mil anos, desde a descoberta da agricultura. Era utilizada para a obtenção de fibras, óleo, sementes consumidas como alimento e por suas propriedades alucinógenas. A planta parece ser originária da China, apesar de outras evidências apontarem para a Ásia Central. O famoso Pen Tsao Ching, farmacopéia escrita em 100 d.C., baseada nas compilações de plantas com propriedades farmacológicas do imperador Shen Nung (2737 a.C.), mostrava que os chineses já conheciam há alguns milênios as propriedades alucinógenas da canábis. Nesses períodos a utilização da planta estava intrinsecamente ligada ao misticismo e ao curandeirismo. Quando os europeus chegaram a China no século XIII, tal hábito havia declinado e caído em desuso, permanecendo apenas o cultivo da planta para a obtenção de fibras têxteis.
A maconha possui grande influência sobre a cultura hindu. Segundo a tradição da Índia, a planta fora um presente dos deuses aos homens, capaz de provê-los de prazer, coragem e atender a seus desejos sexuais. A planta teria brotado pela primeira vez quando gotas do néctar dos deuses (Amrita) se derramaram sobre a Terra. Nos Himalaias indianos e no Tibet as preparações a base de canábis encontram grande importância no contexto religioso. Sadhus (homens sagrados) dedicam sua vida à deusa Shiva. Não possuem propriedade e praticam ioga e meditação. O consumo de maconha faz parte de seus rituais. Uma das preparações de maconha utilizada é o bhang, obtido a partir da maceração de brotos da planta, convertidos em um suco ou doce. A ganja consiste em brotos compactados por vários dias e fumados com tabaco ou datura. O charas é a própria resina (haxixe), fumada da mesma forma.
Durante a Antigüidade, os gregos e romanos não tiveram por hábito utilizar a maconha com propósitos alucinógenos, apesar de conhecerem tais propriedades. Dioscórides e Galeno utilizavam-na como medicamento para alguns tumores e observaram que o uso continuado era capaz de causar esterilidade masculina e inibir a produção de leite na mulher. Durante a Idade Média, a planta foi praticamente esquecida. Já o Império Islâmico conviveu com a planta e a espalhou pelas regiões conquistadas.
Durante o século XI, na região Qazwin, no atual Irã, viveu Hassan bin Sabbah, o Velho da Montanha. Estudioso do islamismo e vivendo em Alexandria (Egito), viu-se prisioneiro quando apoiou a ascensão ao trono do príncipe Nizar, no seu entender o herdeiro legítimo do califado egípcio. Conseguindo escapar do encarceramento, encontrou refúgio em Qazwin, onde ergueu seu castelo no Monte Alamut (Ninho da Águia). Fundou, então, a Ordem dos Ismaelitas de Nizar. A Ordem, destinada a apoiar o postulante ao trono e a defender os preceitos do islamismo, possuía uma disciplina militar rígida, tendo Sabbah no topo da hierarquia. Logo se tornou uma potência regional, incomodando diversos monarcas, que tentaram derruba-la em vão. Seus soldados, conhecidos como anjos destruidores, devotavam-lhe obediências e executavam qualquer comando de Sabbah, incluindo o suicídio. Para esses, Sabbah construiu o Jardim Terreno das Delícias. Após consumirem uma porção considerável de haxixe, os soldados iniciados eram levados para o jardim, povoado de animais e plantas exóticos, construções paradisíacas, alimentos refinados e virgens adolescentes, onde os desejos eram desprovidos de limites. Tal hábito fez com que Sabbah denominasse seu exército de Ordem dos Haxixins. Quando no século XI os cruzados tomaram conhecimento do poderio e dos métodos militares dos homens de Sabbah, passaram a utilizar o termo assassino (haxixim) para denominar todo indivíduo capaz de grandes atrocidades.
Somente a partir das Cruzadas (séculos XI - XIII) e das Grandes Navegações Européias (século XVI), que a maconha voltou a ser conhecida no continente. A partir do século XVIII as plantas provenientes das novas colônias começaram a ser catalogadas e estudas de maneira mais científica, sem o misticismo medieval que influenciava o conhecimento europeu até então. Com a chegada do século XIX, a Europa se vê as voltas com movimentos culturais intimistas, voltados para a busca do prazer e do individualismo, interessados no místico e no espiritual, em busca das raízes nacionais originadas na Idade Média. O mundo islâmico, agora em parte dominado por Napoleão Bonaparte, foi alvo das inspirações de pintores e poetas e o consumo de haxixe foi bastante cultuado.
Em 1845, um médico francês, J. J. Moreau de Tours e os escritores Gérard de Nerval e Téophile Gautier fundaram o Clube dos Haxixins. Participavam das reuniões mensais artistas renomados do período, tais como Charles Baudelaire, Alexandre Dumas, Eugene Delacroix e Victor Hugo. A intenção dos encontros era cultuar o consumo de haxixe, fomentar a produção artística e exaltar Hassan bin Sabbah. Todas deveriam trajar indumentárias árabes e periodicamente um dos membros era eleito o Velho da Montanha. No mesmo período, Lewis Carroll publicou o livro Alice no País das Maravilhas, povoada de imagens oníricas e de alusões ao consumo de haxixe.
A Medicina também passou a utilizar a maconha com propósitos terapêuticos a partir dessa época. As indicações voltavam-se principalmente para o tratamento da asma, tosse e doenças nervosas. A reação ao consumo da maconha e outras substâncias psicotrópicas ganharam força a partir do final do século XVIII. Nessa época, vários fenômenos contribuíram para o crescimento de uma postura contrária ao consumo de substâncias psicoativas. Relatos de complicações, tais como o surgimento de quadros depressivos e psicóticos entre os usuários de maconha, foram publicados. Nos Estados Unidos ganhava força o Movimento de Temperança, que alertava para os efeitos indesejáveis de tais substâncias (tais como a dependência) e proponha regulamentar melhor a conduta para prescreve-las. Entre a porção mais conservadora da população norte-americana, cresceram as campanhas que pregavam a proibição do comércio de todos os psicotrópicos, inclusive o álcool. Esse movimento ficou conhecido como Proibicionismo.
A partir da década de 10, diversas substâncias foram proibidas dentro do território americano. Os países da Europa e das Américas acompanharam essa tendência. Ao final da década de 30, a cocaína e maconha estavam proibidas em vários países do mundo. As vendas de morfina passaram a ser rigorosamente controladas. Nos Estados Unidos, o álcool foi proibido de 1920 a 1935. Concomitantemente, o mundo vivia as incertezas do período entre guerras e sentia o crescimento da Guerra Fria. Estados Unidos e União Soviética despontavam como as novas potências mundiais. A economia mundial ainda sentia os prejuízos causados pela Primeira Guerra Mundial. A recessão era a regra para muitos destes. A Segunda Guerra batia às portas do mundo com a ascensão do Fascismo italiano e do Nazismo alemão. Eclodiu e tomou as atenções do mundo até 1945.
Com a resolução deste conflito, o mundo passou a se preocupar com a Guerra Fria e as com a perspectiva de um conflito nuclear. Dentro desse contexto, a juventude da costa leste americana começou a buscar alternativas àquele clima repressivo e pessimista que se formou ao longo do século XX. Durante as férias, alguns jovens americanos pegavam o pouco do dinheiro que conseguiram ajuntar e punham o pé na estrada. Eles pediam carona da costa leste até a costa oeste. A famosa Route 66 foi palco de grandes aventuras nesse período. "Em julho de 1947, juntando uns 50 dólares do meu velho seguro de veterano, eu estava pronto para ir à Costa Oeste", afirma Jack Kerouac, em seu livro On the Road um dos escritores mais importantes desse movimento. Nessa época, tinha 25 anos.
Essa geração ficou conhecida como Geração Beat (beatnicks). Os beats eram uma geração de jovens em busca de alternativas. Achavam que o modelo vigente da sociedade americana falira. Queriam sentir a paz e a liberdade. Desejavam contestar os valores do American way of life a partir da tomada de novas atitudes. Eram poetas e escritores que decidiram cair na estrada e buscar novas experiências. O consumo de drogas, em especial a maconha e outros alucinógenos, foi muito utilizado por eles. Esse não-alinhamento, de início tímido, isolado e imperceptível ganhou mais adeptos e se radicalizou: agora jovens de classe média começavam a abandonar as universidades e se refugiavam em comunidades. Desejavam viver da agricultura, fazer amor livre de regras morais e usar drogas como uma forma de contestação, uma maneira de cair fora do sistema. Tudo isso ao som de muito rock´n´roll. Nascia o Movimento Hippie dos anos sessenta e setenta.Ao final dos anos 70 a maconha estava novamente bastante difundida em todo o Ocidente. É difícil dizer o quanto esse consumo aumentou ou declinou nos últimos trinta anos. Desde o recrudescimento do consumo, nos anos quarenta e cinqüenta, a maconha nunca mais deixou de existir nas sociedades da Europa e das Américas. A popularização do consumo fomentou a estruturação de um narcotráfico especializado na produção e distribuição dessa substância, concentrado na América do Sul e países africanos. Em 1984, a Holanda optou pela liberação do comércio e do consumo de maconha e seus derivados. A planta passou a ser legalmente vendida em estabelecimentos específicos (coffee shops). Além dissoDurante os anos oitenta e início dos anos noventa, as preocupações sobre uso de drogas voltaram-se para a cocaína e as metanfetaminas (ecstasy). Somente a partir da segunda metade da década que o tema foi recuperado e novamente colocado em discussão.Novos estudos mostraram a existência de receptores específicos para a maconha no cérebro (receptores canabinóides) e de substâncias endógenas (anandamidas) bastantes semelhantes ao princípio ativo da maconha (delta-9-tetraidrocanabinol). A presença de sintomas de abstinência entre os usuários crônicos de maconha e o relato de complicações agudas entre os usuários (depressão, quadros psicóticos) contestaram a teoria de que se tratava de uma droga leve, incapaz de causar dependência.Por outro lado, movimentos alinhados a legalização do consumo advogam que a substância já possui elos culturais capazes de regular seu consumo, os índices de dependência são baixos e os danos da proibição (violência e marginalidade) são mais danosos que o consumo em si. Alegam, ainda, que a planta possui propriedades medicinais e a utilização de suas fibras têxteis poderia ajudar a economia de muitos países. Alguns países como o Canadá e alguns estados norte-americanos aceitam a prescrição do tetraidrocanabinol como estimulador do apetite para portadores de câncer e AIDS. É utilizada ainda como inibidor de náuseas e vômitos para pacientes submetidos à quimioterapia.A maconha é uma substância que ao longo de sua história suscitou (e ainda suscita) discussões ora apaixonadas, ora embasadas de ambos lados. A tensão gerada entre aqueles que defendem a proibição, o consumo médico ou a simples legalização do consumo ainda não chegou ao fim (será que um dia chegará?). Novos capítulos são aguardados. A conferir.

Fonte: Site Álcool e Drogas sem Distorção (www.einstein.br/alcooledrogas) / NEAD - Núcleo Einstein de Álcool e Drogas do Hospital Israelita Albert Einstein

História da Ayahuasca

Profª Drª Ana Cecília Marques 1
Hamer Nastasy Palhares 2

A Ayahuasca é conhecida em diferentes culturas pelos seguintes nomes: yajé, caapi, natema, pindé, kahi, mihi, dápa, bejuco de oro, vine of gold, vine of the spirits, vine of the soul e a transliteração para a língua portuguesa resultou em hoasca. Também é conhecida amplamente no Brasil como "chá do Santo Daime" ou "vegetal". Na linguagem Quechua, aya significa espírito ou ancestral, e huasca significa vinho ou chá (Luna & Amaringo, 1991; Grob et al., 1996). Este nome, tanto se aplica à bebida preparada por meio da mistura da Banisteriopsis caapi e da Psichotria viridis, quanto à primeira das plantas. Apesar das variações acerca das plantas usadas, farmacologicamente, boa parte delas são similares. Nesta revisão, o termo ayahuasca será usado para designar a bebida resultante da decocção destas duas plantas combinação.As diversas preparações geralmente contêm talos socados da Banisteriopsis caapi ou espécies correlatas mais as folhas da Psichotria viridis. As plantas adicionadas à Ayahuasca ajudam a maximizar as experiências de estimulação visual e as sensações de contato com forças e locais sobrenaturais e divinos. Os métodos de preparo variam conforme o grupo, como um chá quente ou amassando-se junto à água fria, deixando-se em descanso por aproximadamente 24 horas. É um processo longo que leva quase um dia para o preparo, o que torna a "tecnologia" de produção insuficiente para a produção de grandes quantidades (Karniol & Seibel, Parecer do Grupo de Trabalho, 1986).

História
As origens do uso da Ayahuasca na bacia Amazônica remontam à Pré-história. Não é possível afirmar quando tal prática teve origem, no entanto, há evidências arqueológicas através de potes, desenhos que levam a crer que o uso de plantas alucinógenas ocorra desde 2.000 a.C. No século XVI, há relatos de que os espanhóis e portugueses, detentores das florestas do Novo Mundo, observaram a utilização de bebidas na cultura indígena e recriminaram-na: "quando bêbados, perdem o sentido, porque a bebida é muito poderosa, por meio dela comunicam-se com o demônio, porque eles ficam sem julgamento, e apresentam várias alucinações que eles atribuem a um deus que vive dentro destas plantas" (Guerra, 1971). O uso destas plantas foi condenado pela Santa Inquisição em 1616, o cerimonial persistiu de forma escondida dos dominadores Europeus. Os padres jesuítas descreveram o uso de "poções diabólicas" pelos nativos do Peru no século XVII.A história moderna da Ayahuasca começa em 1851 quando o botânico inglês R. Spruce noticia o uso de bebidas que intoxicam entre os índios Tukanoan, no Brasil. Estes convidaram-no a participar de uma cerimônia que incluía a infusão que eles chamavam "caapi". Spruce apenas tomou uma pequena quantidade daquela "nauseous beverage", mas não se deu conta dos profundos efeitos que ela teve sobre seus amigos. Os Tukanoans mostraram a Spruce a planta da qual caapi derivava, e ele coletou espécies da planta e das flores. Spruce chamou-a de Banisteria caapi, e estudo posteriores levaram-no a concluir que caapi, yage e ayahuasca eram nomes indígenas para a mesma poção feita daquela videira.A Banisteria caapi de Spruce foi reclassificada como Banisteriopsis caapi pelo taxonomista Morton em 1931.Em 1858, Spruce encontrou a mesma planta sendo usada na tribo Guahibo, na margem superior do rio Orinoco, na Colômbia e Venezuela, e, no mesmo ano, entre os Záparos dos Andes Peruanos, que denominavam-na Ayahuasca.Simson's, em 1886 foi quem primeiro observou a mistura das plantas na confecção da Ayahuasca.Apesar da coleta e identificação da Ayahuasca datar de 1851, os alcalóides já eram conhecidos desde a primeira metade do século XIX, o que se deve à facilidade de extração dos mesmos, bem como aos possíveis usos clínicos: logo, a Harmalina foi isolada da Peganum harmala em 1840. Sete anos depois, a Harmina foi identificada. A "telepatina" - harmina- foi identificada na "yajé" em 1905 (Zerda e Bayon).O começo do século vinte foi marcado por mais confusão do que esclarecimentos acerca da Ayahuasca, muitos identificaram-na, equivocadamente, do ponto de vista da botânica. Até que, em 1939, Chen & Chen descobriu que tanto a caapi, yagé e ayahuasca eram a mesma bebida. Foram estes mesmos pesquisadores que confirmaram que a harmina, telepatina e banisterina eram a mesma substância.Em 1957, Hochstein and Paradies encontraram, além de Harmina, também Harmalina e Tetrahidroharmina. Em 68, identificou-se a N,N dimetiltriptamina (DMT) como outro alcalóide deste chá. Este já havia sido sintetizado em 1931 porém só foi identificado como substância natural em 1955, na planta Piptadenia peregrina (Anadenanthera peregrina).Os princípios da ação farmacológica da Ayahuasca foram traçados na década de 60 e sugeriam a interação das beta-carbolinas presentes na Banisteriopsis e do DMT proveniente da P. viridis.O estudo de Rivier & Lindgren identificou os alcalóides presentes na decocção em 1972, isto é: Harmina, Harmalina, Tetrahidroharmina e Dimetiltriptamina.

Antropologia e uso da Ayahuasca
Plantas com propriedades alucinógenas vem sendo utilizadas com finalidades místicas e religiosas em diferentes culturas primitivas (Andritzky, 1989; Callaway, 1996; Desmerchelier, 1996; Luna, 1984). Há relatos do uso das poções em toda a Amazônia, chegando à costa do Pacífico no Peru, Colômbia e Equador, bem como na costa do Panamá, sendo que foi reconhecida em pelo menos 72 tribos indígenas, com pelo menos 40 diferentes nomes.Entre as diversas tribos da bacia Amazônica, a Ayahuasca é percebida como uma poção mágica inebriante, de origem divina, que "facilita o desprendimento da alma de seu confinamento corpóreo", voltando ao mesmo conforme a vontade e carregada de conhecimentos sagrados. Entre os nativos é usada para propósitos de cura, religião e para fornecer visões que são importantes no planejamento de caçadas, prevenção contra espíritos malévolos, bem como contra ataques de feras da floresta.Antes da colonização européia, postula-se que as plantas inebriantes eram amplamente usadas com fins de bruxaria, rituais religiosos, cura e contato com forças sobrenaturais (Dobkin de Rios, 1972; Harner, 1973)Entre os Tukanoans, o yajé é responsável pela arquitetura da tribo, pois as imagens geométricas induzidas pelo efeito do chá desempenham um importante papel na estrutura da vida cultural desta tribo, sendo que as experiências relacionadas à Ayahuasca pertencem a uma realidade mais nobre que a ordinária (Spruce, 1908).Para os Cashinahua o uso da ayahuasca só deve ser feito em condições extremas pois é considerada uma experiência desagradável e amedrontadora. Os índios Jivaro do Equador, relatam que a experiência com Ayahuasca é a vida real, ao passo que a realidade cotidiana é apenas uma ilusão. As visões são guiadas e manipuladas pelos xamãs, o que resulta em visões grupais sintônicas, que são incluídas dentro dos rituais religiosos próprios destas culturas. O uso da Ayahuasca sobreviveu aos ataques das culturas dominadoras e pouco a pouco espalhou-se para os mestiços chegando enfim às pequenas cidades da região Amazônica. Nestas cidades o uso da bebida foi redimensionado, sendo que os xamãs da Amazônia Peruana referem-se a si mesmos como vegetalistas. Estes "plant-doctors" ajudam as pessoas das áreas rurais e as populações pobres da áreas suburbanas que geralmente não têm outras opções em situações críticas na esfera da saúde física, mental e em "problemas sobrenaturais" (Luna, L. E., 1984). Tais vegetalistas apresentam a tendência a especializarem-se em algumas poucas plantas e usam estes "ensinamentos" em sua prática. Assim, há tabaqueiros que usam tabaco, "toeros" que usam várias espécies de Brugmansia species; "catahueros" que usam resinas da catahua (Hura crepitans), "perfumeros" que usam diversas espécies de plantas com aromas fortes e por fim os "ayahuasqueros" que se utilizam da ayahuasca em seus rituais. Os Xamãs usam a bebida em um contexto de cura. Eles tomam a Ayahuasca para melhor diagnosticar a natureza da doença do paciente. Vegetalistas podem receber o dom da cura por meio de espíritos da floresta e seu papel é o de, muitas vezes, intermediar a transmissão do conhecimento médico para o mundo dos humanos, possibilitando assim a cura.Os espíritos "plant teachers" são responsáveis por ensinarem aos xamãs algumas músicas sobrenaturais chamadas "icaros", tanto dentro das sessões de ayahuasca quanto durante os sonhos que se seguem. Os "plant teachers" dão estas canções mágicas aos xamãs ou vegetalistas então estes podem cantá-las ou sussurrá-las durante a sessão de cura. Segundo a explicação dos xamãs, quando uma pessoa se torna doente, seu "padrão energético torna-se distorcido". Sob a influência da Ayahusca, o xamã pode ver a distorção e corrigí-la através de massagens, sucção, plantas medicinais, hidroterapia e restauração da alma do doente. A similaridade entre estes métodos xamãs e as técnicas orientais podem ser notadas. De forma interessante, os xamãs escolhem plantas medicinais baseados em características visuais, como formas e cores. Por exemplo, uma planta que produz flores de formas semelhantes a uma orelha podem e devem ser usadas para tratamento de doenças relacionadas à orelha e audição. Parte do treinamento dos xamãs, logo, envolve a prática de reconhecer e aprender a respeito dos poderes das plantas e dos animais e suas "virtudes escondidas".É digno de nota o fato de que muitos xamãs não usam os ensinamentos da Ayahuasca com pessoas que estejam doentes mentalmente.Outra tentativa de uso curativo da Ayahuasca foi empreendido na província de San Martin, no Peru, na década de 80, por um grupo misto de médicos franceses e peruanos, na tentativa de facilitar o tratamento da dependência química à pasta de cocaína, sendo que não se conhece nenhum estudo científico controlado, que possa corroborar este resultado (Mabit, 1996).

Ayahuasca e religião
No século passado, além do consumo da mistura entre as populações indígenas, várias igrejas adotaram o uso da ayashuasca em rituais sincréticos, especialmente no Brasil, onde os efeitos psicoativos são acoplados a conceitos das doutrinas Judaica, Cristã, Africana entre outras. As principais religiões deste módulo incluem a UDV (União do Vegetal), CEFLURIS (Santo Daime), Barquinha e o Alto Santo (Labilgalini Junior, 1998).O uso da hoasca dentro de tais contextos religiosos foi oficialmente reconhecido e protegido pela lei no Brasil em 1987. Tais seitas incluíram a Ayahuasca em seus rituais de comunhão como um simbolismo comparável ao "pão e vinho". Estas igrejas argumentam que a poção ajuda a promover concentração pronunciada e contato direto com o plano espiritual. Segundo a União do Vegetal, a beberagem é o "veículo, meio" da ação religiosa e não o fim.Calcula-se que o número de pessoas que fazem uso regular da Hoasca (i.e., aproximadamente 1x/mês), na América do Sul, excluindo-se as populações indígenas, poderia chegar a 15.000, isto em 1997 (Luna, L. E., 1997).A primeira destas igrejas começou a ser formada na década de 1920 no Brasil, e hoje dois grupos, a União do Vegetal (UDV or 'Herbal Union') e o Santo Daime, continuam em amplo processo de crescimento. Estas igrejas neo-cristãs espalham-se pelas áreas urbanas das grandes cidades, em rituais que se repetem em geral uma vez por semana ou quinzena. Os membros da igreja cultivam as plantas necessárias ao feitio do chá, supervisionam seu preparo e estocagem. Em algumas religiões não é incomum que membros da seita, dado a longa duração dos cultos, tomem várias doses durante o curso de uma noite. A UDV é a maior e mais organizada destas religiões e não permite o uso de Ayahuasca por pessoas que não sejam membros já efetivos da seita. É também contrária a uso de drogas bem como ao uso da Ayahuasca fora do contexto religioso, pois a considera "inadequada ao uso indiscriminado por parte de pessoas não-iniciadas e sem a orientação de um dirigente religioso".Enquanto o uso regular da Ayahuasca ocorre raramente entre os indígenas- mesmo que a considerável porcentagem destes tenham-na experimentado em alguma fase de suas vidas- entre os membros das igrejas o consumo é estável numa base semanal ou quinzenal, dentro dos contextos cerimoniais.Dentro da perspectiva religiosa, o potencial de expansão das seitas que usam ayahuasca é largo. Através da incorporação de uma substância psicoativa de tal peso em cerimônias religiosas podem ser alcançados efeitos nas práticas religiosas antes inexeqüíveis.

Ayauhuasca e a expansão do consumo
É crescente o uso da Ayahuasca, inclusive nas Américas e Europa (Callaway & Grob, 1998) o que se deve a vários fatores: o volume de publicações literárias de impacto bem como a mídia do depoimento de pessoas famosas (Cazenave, 2000); os "Works" da seita Santo Daime em diferentes países; a facilidade de aquisição de pacotes de turismo, o que por muitos é conhecido por "drug tourism" onde os usuários, em busca de experiências novas, aventuram-se por expedições floresta adentro onde são realizados rituais em que é convidado a beber a Ayahuasca, geralmente não inclusa no preço inicial. Tais pacotes podem girar por volta de U$1100 a 1300, o que não é tão caro se comparado a uma sessão de Ayahuasca que pode sair por U$800 no "underground" norte americano, conforme aferidos na internet. Alguns destes sites dizem que o pacote não inclui o uso da beberagem e que não se trata de "Ayahuasca tourism", no entanto, recomendam, paradoxalmente, que as pessoas se abstenham de alimentos que possam levar a interações medicamentosas com os IMAO.O crescente número de indivíduos que vem experimentando a Ayahuasca de maneira descontextualizada, visitas a seitas com o único intuito de conhecer a bebida, e a atual possibilidade de se usar a Pharmahuasca: combinação sintética dos ingredientes psicoativos da Ayahuasca (Ott, J. 1994; Ott, J. 1999). Outra forma crescente de se usar a combinação de ingredientes ativos da Ayahuasca é por meio da "Anahuasca", (Ayahuasca borealis), ou seja, combinação de plantas que produzem resultados semelhantes: esta possibilidade leva a incontáveis combinações de plantas que poderiam produzir, em diferentes graus, o "Efeito Ayahuasca" (Ott, J; 1999).

1 Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo
2 Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD) da Universidade Federal de São Paulo

História da Cocaína

A cocaína é consumida pela humanidade há pelo menos cinco mil anos. (Escohotado, 1996). Porém, a planta da qual a substância é proveniente, a coca, natural dos altiplanos andinos, já era utilizada por civilizações pré-incaicas florescidas no século X a.C. (Escohotado, 1996; Johanson, 1988). A origem etimológica da palavra 'coca' provém da língua aymara e significa "planta" ou "arbusto" (Escohotado, 1996). Para as civilizações pré-incaicas, a planta deu poderes aos homens para vencerem um deus maligno e os incas entendiam que a 'Mama Coca', tal como a denominavam, fora um presente dos deuses para que os homens, ao mascar suas folhas, pudessem suportar a fome e a fadiga (Escohotado, 1996). O consumo das folhas era um privilégio da nobreza e sua utilização por soldados, mensageiros e camponeses, salvo autorização real expressa, era considerado crime de lesa majestade (Escohotado, 1996). Os nativos andinos não sabiam extrair das folhas o princípio ativo, mas aprenderam a conserva-lo, misturando à planta substâncias alcalinas (cal) (Johanson, 1988).Apesar de levada ao conhecimento europeu já nos primeiros anos da colonização espanhola, por Américo Vespúcio (1505), Fernandez de Oviedo (1535) e Nicholas Monardes (1565) (Karch, 1998), as folhas de coca não conseguiram popularidade nesse continente até o século XIX (provavelmente devido à deterioração da planta durante o transporte), permanecendo um costume indígena exclusivo até então (Grinspoon et al, 1985; Johanson, 1988). A primeira publicação científica sobre o assunto, no entanto, apareceu na revista Institutiones Medicae, escrita por Herman Boerhaave, em 1708 (The Vaults of Erowid, 2001).O interesse europeu pelas propriedades farmacológicas da folha de coca apareceu com efusividade na virada para o século XIX: eminentes botânicos, farmacologistas e médicos da primeira metade do século atribuíram-lhe denominações tais como "tesouro da matéria médica", "saudável e condutora da longevidade", "evocadora da potência do organismo, sem deixar sinal algum de debilidade conseqüente" (Escohotado, 1996). Opositores da euforia causada pela descoberta da substância já eram encontrados nesse período, comparavam a coca ao ópio e alertavam para o potencial uso abusivo da mesma (Grinspoon et al, 1985; Escohotado, 1996).A medicina adotou definitivamente a substância após a obtenção do princípio ativo puro, isolado por Albert Niemann, em 1859 (Karch, 1998). Antes, em 1855, o químico Gaedecke já havia extraído um resíduo oleoso das folhas de coca, ao qual denominou eritroxilina (Johanson, 1988). As indicações da cocaína para o tratamento das farmacodependências, como estimulante incapaz de danos secundários, ideal para exaltar o humor, espantar a depressão e "deixar as damas plenas de vivacidade e charme", foram publicadas nas principais revistas médicas da época, na Europa e nos Estados Unidos (Escohotado, 1996). Suas propriedades anestésicas foram utilizadas no tratamento de dores de dente e garganta, em bloqueios anestésicos e abriu uma nova fronteira nas cirurgias oftalmológicas (Karch, 1998). Era utilizada pelas vias oral, inalatória ou por meio de injeções intradérmicas (Escohotado, 1996).Os primeiros produtos comerciais da substância começaram a surgir no início da segunda metade do século XIX (Escohotado, 1996; Karch, 1998). Tais produtos consistiam em infusões revigoradoras de folhas de coca, pastilhas para aliviar dores dentárias, tônicos e bebidas, alcóolicas e não-alcóolicas, que recebiam cocaína em sua composição. Duas bebidas atingiram grande notabilidade: o Vinho de Coca Mariani, produzido pelo médico corso que batizou com seu sobrenome a bebida e a Coca-Cola, do boticário norte-americano J. S. Pemberton, que a vendia para o combate à cefaléia e como tonificante. Com o advento da Lei Seca, Pemberton substituiu o álcool da fórmula por noz de cola (continente de cafeína), gaseificou a água e anunciou-a como "a bebida dos intelectuais e abstêmios" (Escohotado, 1996). Uma garrafa de 6 onças da bebida continha, em média, 2 miligramas de cocaína (Spillane, 1999). Em 1909, havia nos Estados Unidos 69 tipos de bebidas que continham cocaína em sua fórmula (Escohotado, 1996).Entre 1880 e 1884 o Therapeutic Gazzette publicou 16 relatos de cura da dependência do ópio pela cocaína (Grinspoon et al, 1985). Mas foi a monografia de Sigmund Freud, Über Coca, em 1884, que sintetizou aquilo que vinha sendo falado e escrito pela comunidade científica nas últimas décadas. O trabalho do então desconhecido cientista, exaltava a capacidade da substância de exaltar o humor, combater o 'morfinismo' e o 'alcoolismo', transtornos gástricos, caquexia e a asma, além de ser afrodisíaco e anestésico local. Em artigos subseqüentes, considerou improvável a existência de uma dose letal para a substância e colocou suas experiências com a mesma no tratamento da histeria e hipocondria (Escohotado, 1996).Dois laboratórios, Merck (1862) e Parke Davis (1870), passaram a comercializar a cocaína e dirigiram-na à classe médica na forma apresentações tais como extratos fluídos, vinhos, oleatos e salicilatos, inaladores, sprays nasais e cigarros contendo a cocaína em suas composições (Grinspoon et al, 1985; Johanson, 1988; Escohotado, 1996). Numa de suas campanhas, a Parke Davis publicou aos médicos: "Esperamos que seja mais freqüente a aplicação dos maravilhosos efeitos da cocaína na terapêutica geral, dos quais destacamos a melhora do estado de ânimo, o aumento das faculdades físicas e mentais, assim como o aumento da resistência ao esforço [...] Seria uma lástima que tão destacadas propriedades não fossem exploradas" (Escohotado, 1996). Nessa época, o cultivo da planta foi levado para colônias inglesas, tais como Jamaica, Madagascar, Camarões, Índia, Ceilão (atual Sri Lanka) e especialmente Java (Grinspoon, 1985; Negrete, 1992).A reação ao tratamento de panacéia dispensado à cocaína, embora presente desde o início do século XIX, só ganhou relevância no final desse (Spillane, 1999). Sintomas psicóticos e depressivos, insônia e relatos de abuso e dependência, onde o consumo era classificado por seus usuários como uma 'tentação irresistível' golpearam os elogios incondicionais que a substância vinha recebendo até aquele período (Escohotado, 1996). Por volta de 1890, pelo menos 400 casos agudos ou crônicos de danos físicos e psíquicos relacionados à cocaína já haviam sido publicados na literatura médica (Grinspoon et al, 1985). Em 1901 a Coca-Cola retirou a cocaína de sua fórmula (Karch, 1998). Emil Kraepelin (1902), durante uma conferência para clínicos da Universidade de Heidelberg, ao falar sobre a importância do papel do médico para "a prevenção e o alívio da interminável miséria causada pela doença mental", apontou o alcoolismo, a sífilis e o abuso da morfina e da cocaína, como "os mais importantes pontos de ataque". Por volta de 1905, o consumo inalado da cocaína já era bastante difundido nos E.U.A. e o primeiro caso de lesão da mucosa nasal foi publicado pela literatura médica em 1910 (Karch, 1998). As sociedades médicas, no início partidárias, e depois convertidas em ferozes opositoras da cocaína, passaram a criticar a venda da cocaína pela indústria farmacêutica, afirmando que esses haviam promovido a substância de uma maneira irresponsável e não-científica (Spillane, 1999) .A partir da segunda década do século XX, observou-se um declínio no consumo da cocaína nos Estados Unidos e na Europa até atingir níveis insignificantes. Para tal, alguns fenômenos foram determinantes: o fortalecimento do puritanismo e da ideologia proibicionista nos Estados Unidos, culminado no aparecimento de leis restritivas e punitivas (Harrison Narcotics Act, 1914; Boggs Act, 1951; Narcotics Control Act, 1956), que baniram a cocaína e a heroína do mercado livre, controlaram as importações desses produtos, perseguiram os médicos que prescreviam tais substâncias e fecharam várias clínicas para tratamento de dependentes (Escohotado, 1996). A depressão econômica que se estendeu até os anos 40, deixando menos dinheiro para gastos supérfluos (Grinspoon et al, 1985). O surgimento, na Europa, de medidas socio-educativas e de saúde pública, visando à prevenção e ao tratamento desses pacientes (Escohotado, 1996). E por fim, a anfetamina, um novo e potente estimulante de longa duração, foi sintetizada em 1932. A substância não possuía qualquer restrição punitiva por parte dos estados nacionais, era barata e parece ter substituído o consumo de cocaína em alguma proporção (Johanson, 1988). Alguns fatores são apontados como contribuintes para o recrudescimento do consumo de cocaína e heroína no início dos anos 70: o aparato repressivo montado pelo Estado norte-americano concentrava seus esforços no combate à maconha e ao LSD, permitindo que outras substâncias fossem introduzidas no país (Escohotado, 1996). A partir de 1973, o consumo de anfetamina passou a ser controlado, deixando um universo de consumidores carentes de uma substância com as mesmas propriedades (Johanson, 1988). Os movimentos contraculturais beat e hippie, dos anos 50 e 60, além de entenderem a experiência com substâncias psicoativas como uma forma percepção, contestação e saída do sistema autoritário em que viviam as nações da Guerra Fria (tune in, turn on and drop out), contribuíram para a modificação dos valores autoritários da classe média e para a aproximação com os setores marginalizados da sociedade (negros, homossexuais, loucos enclausurados e bandidos) (OSAP, 1991; Escohotado, 1996). Durante o seu ressurgimento, a cocaína era considerada uma 'droga leve', incapaz de causar sintomas de dependência física e por isso foi pouco visada num primeiro momento (OMS, 1975; OSAP, 1991). O narcotráfico colombiano se profissionalizou a partir dos anos 70 (Uprimny, 1997). Utilizando sua experiência anterior no contrabando de ouro e esmeraldas e aproveitando as conexões existentes para a distribuição da maconha, introduziu crescentes quantidades de cocaína em território norte-americano, aumentando a disponibilidade e reduzindo posteriormente o preço do produto (The Economist, 2001).Desse modo, a cocaína se apresentou aos anos 80 como um estimulante relativamente inócuo e eminentemente urbano (Grinspoon et al, 1985). O alto custo inicial da substância, seu snob appeal e reputação de 'droga das elites' conferiram-lhe uma imagem de algo desejável (Grinspoon, 1985). O estilo de vida de uma nova geração, nascida durante os anos efervescentes do movimento hippie, mas ideologicamente oposta a esse, estava associado à cocaína : essa geração ficou conhecida como yuppies (young urban professionals) (American Heritage Dictionary, 2000). Jovens profissionais bem sucedidos e totalmente integrados ao sistema de produção vigente, possuíam empregos invejáveis e sob medida para workarolics e identificavam-se com os ícones do consumismo (Grinspoon, 1985). O consumo de cocaína inalada era visto como provedor de energia, auto-estima e ambição social, atributos essenciais para esses jovens executivos (Gold, 1993).O consumo de cocaína atravessou os anos 80 popularizando-se. Atingiu extratos sociais mais baixos, faixas etárias cada vez menores (Escohotado, 1996) e preços mais acessíveis, chegando a custar 250% menos, no final da década (The Economist, 2001). O narcotráfico colombiano, responsável pela produção e distribuição da cocaína pelo mundo, atingiu níveis avançados de organização e notoriedade internacional (Shannon, 1991; Morganthau et al, 1991). No final dos anos 80, era responsável por 80% da cocaína distribuída nos Estados Unidos e faturava cerca de 200 bilhões de dólares anuais (Arbex, 1996). Nesse contexto de popularização, uma nova apresentação da substância surgiu em território norte-americano, após um período embrionário na América do Sul. Foi denominado crack e seu impacto sobre a cultura norte-americana e mundial gerou grande interesse por parte da mídia e da comunidade científica.O hábito de fumar a pasta de folhas de coca era praticamente desconhecido na América do Sul antes dos anos 70 (Negrete, 1992). A partir dessa época, começou a ganhar popularidade no Peru, espalhando-se para os outros países produtores no decorrer da década (Maass et al, 1990). Nos Estados Unidos, o uso da pasta de coca foi descrito pela primeira vez em 1974, numa comunidade restrita da Califórnia (Wallace, 1991) e atingiu alguma popularidade no final da década (Siegel, 1987, Wallace, 1991; Morgan et al, 1997). A pasta básica de coca (sulfato de cocaína) é obtida por meio da maceração ou pulverização das folhas de coca com solvente (álcool, benzina, parafina ou querosene), ácido sulfúrico e carbonato de sódio (Maass et al, 1990; Escohotado, 1996). Desde os primeiros relatos, chamava a atenção dos pesquisadores a intensidade e a curta duração dos sintomas de euforia, seu preço muito inferior ao da cocaína refinada, as impurezas do amálgama e o 'microtráfico' feito pelo usuário para a manutenção do próprio consumo (Maass et al, 1990). A pasta básica era chamada nos países andinos de basuco, evocando a natureza da mistura (alcalina) e a potência de seus efeitos psicotrópicos (bazuca) (Negrete, 1985). Essa experiência, inicialmente restrita à América Andina, foi considerada por alguns autores como a precursora do surgimento do crack nos Estados Unidos (Hamid, 1991a; Ellenhorn et al, 1997; Reinarman, 1997).O crack surgiu entre 1984 e 1985 nos bairros pobres de Los Angeles, Nova York e Miami, habitados principalmente por negros ou hispânicos e acometidos por altos índices de desemprego (Del Roio, 1997, Reinarman, 1997). Era obtido de um modo simples e passível de fabricação caseira (Ellenhorn et al, 1997) e utilizados em grupo, dentro de casas com graus variados de abandono e precariedade (crack houses) (Geter, 1994). Os cristais eram fumados em cachimbos e estralavam (cracking) quando expostos ao fogo, característica que lhes conferiu o nome (Ellenhorn et al, 1997). A utilização produzia uma euforia de grande magnitude e de curta duração, seguida de intensa fissura e desejo de repetir a dose (OSAP, 1991). O perfil inicial desses consumidores, eminentemente jovem, era o seguinte (Hamid, 1991b): usuários de cocaína refinada, atraídos inicialmente pelo baixo preço do crack, usuários de maconha e poliusuários, que adicionaram o crack ao seu padrão de consumo e aqueles que adotaram o crack como sua primeira substância. Juntaram-se a essa população, usuários endovenosos de cocaína, geralmente mais velhos, que após o advento da AIDS, optaram pelo crack em busca de vias de administração mais seguras, sem prejuízo na intensidade dos efeitos (Dunn et al, 1999b). O baixo preço da substância também atraiu novos consumidores, de estratos sociais mais baixos, que pagavam por dose consumida e por isso faziam inúmeras transações (Blumstein et al, 2000). No entanto, sua pureza, algumas vezes inferior, a curta duração dos efeitos e a compulsão por novas doses, por vezes produziam um gasto mensal superior ao efetuado com a cocaína refinada (Caulkins et al, 1997; Ferri, 1999).O crack modificou profundamente a economia doméstica do tráfico drogas, bem como seu modo de atuação. Hamid (1991a, 1991b) relata que antes do aparecimento do crack em Nova Iorque, a distribuição de substâncias era feita por grupos de minorias étnicas culturalmente coesas, fazendo seus lucros circularem dentro daquela comunidade, na forma de bens e serviços. Com a chegada do crack e seu padrão compulsivo de uso, a busca por divisas voltou-se para a obtenção de mais substância, em detrimento da comunidade onde o comércio se dava. Além disso, um importante paradigma, a separação entre vendedor e consumidor, foi abandonado: os consumidores assumiram papeis na distribuição e muitos traficantes viram-se dependentes do crack. A partir daí surgiu um novo modo para a distribuição: atomizado e executado por jovens e suas gangues, porém fortemente organizado e hierarquizado, onde cada um exercia um papel específico.O ambiente de violência e criminalidade pronunciado, pode ser explicado por alguns fatores. O novo negócio fomentou competitividade entre os grupos (Hamid, 1991a, Blumstein et al, 2000). Era comandado por adolescentes marginalizados e excluídos do mercado de trabalho, sem outra perspectiva econômica (Morgan et al, 1997; Blumstein et al, 2000), naturalmente mais imaturos e impulsivos e muitas vezes dependentes da substância (Hamid, 1991b, Blumstein et al, 2000). O comércio do crack causou deterioração e desestabilização econômica de bairros, onde as vendas se concentravam, associado à falta da presença do Estado como provedor de políticas sociais e de segurança, atuando exclusivamente como agente repressor e estigmatizador do tráfico e seus usuários (Hatsukami, 1996). O fácil acesso a armas de fogo cada vez mais poderosas (Hatsukami, 1996), fez dessas o principal meio para os membros das gangues garantirem autoproteção, resolverem as disputas de mercado, defenderem os produtos e ativos ilegais, além de lhes conferirem status e poder na comunidade onde atuavam (Blumstein et al, 2000). O caráter abusivo e compulsivo do consumo do crack, gerador de fissura e busca desenfreada por uma nova dose (Gossop et al, 1994; Hatsukami et al, 1996). A chegada do comércio do ilegal do crack catalisou e amplificou déficits sociais latentes, que apareceram sob a forma de comportamentos violentos, tais como venda de objetos pessoais, furtos, roubos, disputa de gangues, assassinatos e prostituição (Hamid, 1991a).A presença do crack começou a ser relatada em outros países no final dos anos 80 (figura 1.1 e figura 1.2). A Espanha é tida a porta de entrada do tráfico de cocaína e haxixe na Europa (OGD, 2000). O país vem detectando a presença crescente da cocaína, principalmente na camada jovem da população (Bosch, 2000). O crack é mais prevalente na região sul do país (Sevilha), decrescendo, gradativamente, até alcançar as cidades do Norte (Barcelona) (Barrio et al, 1998). Portugal e França apresentam índices insignificantes de consumo de cocaína, em termos de saúde pública, além de não fazerem menções sobre o crack (EMCDDA, 1999). A Itália (EMCDDA, 2000) detectou a presença do crack entre minorias de imigrantes (senegaleses), envolvidos no mercado do tráfico e habitando áreas marginalizadas. O consumo, restrito às minorias imigrantes, apresentou algum aumento entre os italianos. No Reino Unido, o crack surgiu em bairros pobres e marginalizados, habitado por minorias de imigrantes, causando disputas de espaço pela distribuição e criminalidade (Bean, 1993; Ditton, 1993; Pearson, 1993, Shapiro, 1993). A substância era relativamente conhecida pelo público jovem (Denham, 1995) e passou a ser utilizada por boa parte dos antigos usuários de cocaína (Strang et al, 1990), com predomínio maior entre os negros caribenhos (Gossop et al, 1994). Recentemente, a imprensa (Police crack down..., 2001) noticiou um aumento do consumo. A Alemanha (EMCDDA, 2000) observou a chegada do crack a partir da primeira metade dos anos 90. Produzido artesanalmente e para consumo próprio, no início, o crack é hoje mais prevalente que a cocaína naquele país, com grande penetrância entre os usuários de heroína. A Holanda parece não ter sentido a presença do crack até 1993 (Cohen, 1997), permanecendo restrito a minorias de imigrantes do Suriname (Cohen, 1995). Em 1998 o consumo de cocaína não-injetável (cocaína refinada e crack) era considerado tão prevalente quanto de heroína (Ameijden et al, 2001). Os países escandinavos (EMCDDA, 1999) têm grande predileção pelas anfetaminas, a substância mais consumida naqueles países, após a maconha (1-3%). Não há relatos sobre o crack nesses países. Figura 1.1 - Prevalência do consumo mundial de cocaína, países produtores e principais rotas de tráfico Fonte: UNODCCP. Global Illicit Drug Trends; 2001.Um padrão insignificante de consumo de cocaína foi observado nos países do Leste Europeu, sem referências à presença do crack (UNODCCP, 2001).Na Austrália, o crack parece ter causado pouca ou nenhuma repercussão (Mugford, 1997). O consumo de cocaína, no entanto, vem aumentando desde o início dos anos 90, apesar dos baixos índices (1,4%). Já nos países asiáticos, tais como Japão, China e Filipinas o consumo de estimulantes se dá preferencialmente com as anfetaminas, não havendo espaço para congêneres (NIDA, 1999; NIDA, 2001). Algum sinal do crack e drogas sintéticas (club drugs) tem sido detectado na Índia, em substituição ao consumo local de mandrax (OGD, 2000). A África do Sul é o maior mercado consumidor de cocaína do continente africano (OGD, 2000). Começou a sentir a presença do crack por volta de 1993, com índices crescentes de consumo, principalmente nas zonas miseráveis de Joanesburgo (Jeter, 2000). Os últimos relatos, no entanto, apontam para a estabilização ou mesmo redução do consumo nesse país (NIDA, 2001). Figura 1.2 - Comportamento do consumo mundial de cocaína em 1999Fonte: UNODCCP. Global Illicit Drug Trends; 2001.Há poucas informações sobre a chegada do crack ao Brasil, em sua maioria provenientes da imprensa leiga ou de órgãos policiais. A apreensão de crack, realizada pela Polícia Federal, entre 1993-1997, aumentou 166 vezes (Procópio, 1999). A apreensão de pasta básica, no mesmo período e considerada por região, apresentou níveis decrescentes, excetuando-se a região sudeste, onde aumentou 5,2 vezes (Procópio, 1999). A cidade de São Paulo foi a mais atingida. A primeira apreensão da substância no município registrada nos arquivos da Divisão de Investigações sobre Entorpecentes (DISE), aconteceu em 1990 (Uchôa, 1996). Algumas evidências apontam para o surgimento da substância em bairros da Zona Leste da cidade (São Mateus, Cidade Tiradentes e Itaim Paulista), para em seguida alcançar a região da Estação da Luz (conhecida como "Cracolândia"), no centro (Uchôa, 1996). A partir daí espalhou-se para vários pontos da cidade, estimulado pelo ambiente de exclusão social (Uchôa, 1996) e pela repressão policial no centro da cidade (Dimenstein, 1999). O preço do crack, apesar de similar ao da cocaína refinada em termos de unidade de peso, possuía apresentações para o varejo que variavam de 1,00 a 50,00 reais, tornando-o acessível para uma faixa grande de consumidores (Dunn et al, 1998). Além disso, parece ter havido uma redução na oferta de outras drogas (Nappo et al, 1994). Procópio (1999), a partir de uma revisão em jornais de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, apresentou algumas considerações sobre o esquema de distribuição. Entre essas, figuram a ascensão de indivíduos cada vez mais jovens ao comando do tráfico, fragmentado e organizado em bandos (gangues), com divisão de tarefas ("dono da bocada", "chefe da distribuição", "avião", "fogueteiro") e normas rígidas de disciplina e punição, com alta prevalência de armas de fogo, caracterizando uma conduta marcadamente violenta, em decorrência da competição por espaço na distribuição e para fazer frente ao esquema de repressão ao tráfico. Apesar de desenhado a partir de dados parciais e em sua maioria sem sistematização científica, o panorama observado guarda semelhanças com a presença do crack em outros países.Não há informações amplas sobre a evolução do consumo de crack no Brasil. Um importante fenômeno observado aqui (Dunn et al, 1996; Dunn et al, 1999b) e em outros países (Gossop et al, 1994; Barrio et al, 1998; Ameijden et al, 2001), durante os anos 90, foi a transição de vias de administração entre os usuários de cocaína. Tal fenômeno caracteriza-se pela substituição da via de administração, por meio da qual um indivíduo se iniciou no consumo de alguma substância, por uma nova via, que passa a ter sua predileção (Dunn et al, 1999b). Quanto às drogas injetáveis no Brasil, cocaína é praticamente a única substância utilizada (Carvalho et al, 2000; Seibel et al, 2000), tendo em vista a presença irrelevante de heroína no país (Dunn et al, 1999b; Carvalho et al, 2000). Até o final dos anos 80 o padrão inicial de consumo de cocaína era feito principalmente pela via intranasal e em menor proporção, pela via injetável (Dunn et al, 1999b). Nos países europeus, o consumo inicial de heroína dava-se principalmente pela via injetável (Gossop et al, 1994; Barrio et al, 1998; Ameijden et al, 2001). Após esse período, verificou-se um aumento daqueles que iniciavam seu consumo pela forma inalatória, em detrimento da injetável (Gossop et al, 1994; Dunn et al, 1999b, Kuebler, 2000; Ameijden et al, 2001). Uma porção dos usuários que utilizavam as vias injetável e intranasal migraram para a via inalatória, ao passo que essa foi a que menos perdeu adeptos (Dunn et al, 1999b). Alguns fatores influenciaram essa transformação: a severidade e o tempo prolongado de consumo de cocaína, o baixo preço e a disponibilidade do crack e a percepção crescente dos riscos associados ao modo injetável (HIV) (Dunn et al, 1999b).Nos últimos anos, instituições ligadas à infância e a imprensa vêm notando uma redução do consumo em São Paulo (Dimenstein, 2000). Notícias sobre as apreensões de substâncias psicoativas pela polícia, mostraram um aumento expressivo das apreensões de maconha (507%) e discreto com relação à cocaína e crack (10%) (Apreensão de maconha..., 2001; Maconha, cocaína..., 20001). Os mesmos artigos também observaram a redução da procura por tratamento na rede pública municipal entre esses indivíduos. Tais informações, apesar de sugerirem uma diminuição do consumo devem ser analisadas com cautela: a redução nas apreensões policiais pode tanto significar uma queda do consumo, como também decorrer do surgimento de esquemas mais protegidos de tráfico, adaptados ao esquema de repressão, inclusive por meio da corrupção desse (Bean et al, 1993). A queda na procura por atendimento pode ser resultado de um redirecionamento da demanda para outras opções de tratamento. Dessa forma, o consumo do crack vem apresentando comportamentos de queda e ascensão em diversos países (figura 1.2), com desdobramentos futuros ainda incertos.

Fonte: Site Álcool e Drogas sem Distorção (www.einstein.br/alcooledrogas) / NEAD - Núcleo Einstein de Álcool e Drogas do Hospital Israelita Albert Einstein

Opiáceos - Um dos tipos de drogas

Tipos de opiáceos
Os opiáceos podem ser de três tipos:
Aparência
Os opiáceos sintéticos são fabricados na forma de comprimidos ou ampolas.A heroína é um pó nas cores branca ou marrom (brown sugar). Pode ser cheirada, fumada ou injetada.
Os opiáceos podem ser consumidos por qualquer via de administração. Até o início do século XX, fumar o ópio era o hábito mais difundido [à esquerda]. Com o aparecimento da heroína refinada, o barateamento das seringas e a busca por efeitos mais intensos, tornaram o uso endovenoso ('pico') [à direita] bastante popular entre os usuários de opiáceos na Europa e nos Estados Unidos.

Efeitos
Os opiáceos são sedativos (induz o sono) e analgésicos (reduz a dor). As alterações mais ressaltadas pela literatura são as referentes ao estado de humor. Há experiências que vão da euforia, marcadas por sensação de prazer, devaneios e distanciamento dos problemas, à sensação de mal-estar psíquico, com irritabilidade, tristeza e sonolência excessiva. Imagens oníricas são bastante freqüentes, qualquer que seja o padrão de humor predominante. Estes efeitos tendem a diminuir ou mesmo desaparecer com o uso frequente.

Riscos à saúde
*Os opiáceos têm alto potencial de dependência;
*Doses excessivas podem levar à overdose, coma e até mesmo à morte (quadro 1).;
*As crises de abstinência são intensas e requerem internação.
*O compartilhamento de seringas aumenta o risco de infecções por bactérias e vírus, como a AIDS.
Fonte: Site Álcool e Drogas sem Distorção (www.einstein.br/alcooledrogas) / NEAD - Núcleo Einstein de Álcool e Drogas do Hospital Israelita Albert Einstein

Nicotina - Um dos tipos de drogas



A nicotina está presente nas folhas do tabaco (Nicotiana tabacum), uma planta nativa das Américas. Ela é hoje a planta psicoativa mais consumida no mundo.
Aparência
Cigarros industrializados com filtros, cigarrilhas, charutos, pacotes de fumo de tabaco ou fumo de corda. O tabaco também pode ser mascado (rapé). A absorção da nicotina se dá pela via pulmonar e oral.



Algumas características da Nicotiana tabacum. Uma imagem do arbusto e detalhes das florescências e da folha.

Efeitos
A nicotina é um estimulante leve. Quando consumida nas primeiras vezes provoca tonturas, formigamento e alterações discretas do humor e do estado de vigília. Esses sintomas são principalmente perceptíveis nos primeiros episódios de consumo, sendo progressivamente menos percebidos com o uso freqüente (tolerância).
Riscos à saúde
A nicotina causa dependência. Os danos à saúde causados pelo cigarro, porém, não são devidos a ela. O cigarro contém mais de 4.700 substâncias, algumas cancerígenas e outras diretamente tóxicas para vários órgãos do corpo. Desse modo, vê-se que o consumo de cigarro é responsável por graves danos aos pulmões, como insuficiência respiratória, asma, bronquites e câncer.O consumo de cigarro aumenta o risco de problemas no coração e na circulação, tais como hipertensão, entupimento dos vasos e infarto do coração. A maioria das mortes que poderiam ser evitadas é causada pelo uso do cigarro.
Pôster do Ministério da Saúde apontando para os diversos compostos químicos que entram na fabricação do cigarro (acetona, terebintina, formol, amônia, naftalina e fósforo). Além destes, a folha de tabaco possui muitas outras substâncias tóxicas, entre elas o alcatrão.

Dois momentos do hábito de fumar: Na primeira metade do século XX, o tabagismo era associado ao glamour e à sensualidade. As complicações crônicas ficaram evidentes a partir da segunda metade e abalaram a imagem virtuosa dos primeiros tempos. No pôster à direita: "FUMAR É DE FATO GLAMUROSO".
Fonte: Site Álcool e Drogas sem Distorção (www.einstein.br/alcooledrogas) / NEAD - Núcleo Einstein de Álcool e Drogas do Hospital Israelita Albert Einstein

Tranquilizantes ou Calmantes - Um dos tipos de drogas


Outros nomes
Os tranqüilizantes ou calmantes ('remédios de faixa preta') são conhecidos por benzodiazepínicos. Existem várias tipos de benzodiazepínicos e várias marcas disponíveis nas farmácias. As mais conhecidas são o diazepam (Valium®), clonazepam (Rivotril®), bromazepam (Lexotan®, Lexpiride®), Alprazolam (Frontal®), Flunitrazepam (Rohypnol®), Flurazepam (Dalmadorm®) e Midazolam (Dormonid®).

Aparência
Os tranqüilizantes são utilizados comumente pela via oral, na forma de comprimidos. Também há apresentações líquidas (gotas) e injetáveis.

Efeitos
Acalma e lentifica as pessoas, aliviando-as das tensões e da ansiedade. O uso em altas doses pode causar brancos e até confusão mental (desorientação no tempo e no espaço).
Riscos à saúde
O uso de doses elevadas pode causar tonturas, incoordenação motora e alterações psiquiátricas, tais como agitação psicomotora, quadros de euforia e irritação, podendo haver sintomas confusionais. Doses muito elevadas podem levar à insuficiência respiratória.
A piora da concentração, a lentificação do raciocínio e a confusão mental deixa as pessoas expostas a graves acidentes.A memória fica prejudicada e naqueles que consomem calmantes por muitos anos esse prejuízo pode se tornar permanente.Os calmantes causam dependência rapidamente. Sintomas de abstinência aparecem após um período relativamente curto de uso.Injetar calmantes pode levar a complicações agudas perigosas à manutenção da vida, como parada respiratória e cardíaca.
Fontes: Site Álcool e Drogas sem Distorção (www.einstein.br/alcooledrogas) / NEAD - Núcleo Einstein de Álcool e Drogas do Hospital Israelita Albert Einstein

Inalantes - Um dos tipos de drogas


Os solventes podem ser encontrados em diversos produtos. Didaticamente, podem ser agrupados em seis classes: colas, aerossóis, agentes de limpeza, produtos alimentícios (geralmente gases propulsores de sprays), solventes e gases.

A via inalatória é de escolha para o consumo de inalantes.
Outros nomes
Cola, loló, lança-perfume

Aparência
Os inalantes estão presentes em diversos produtos. A maior parte deles é vendida comercialmente. São encontrados nos esmaltes de unha, na cola de sapateiro e nos removedores de tinta. No Brasil, os produtos mais utilizados são o lança-perfume, a cola de sapateiro e cheirinho-da-loló, sendo também populares a acetona, esmalte de unha, thinner, benzina e gasolina. O clorofórmio e éter são bastante utilizados. O lança-perfume, vendido em sprays, já foi bastante popular em nossos carnavais.

Efeitos
Os inalantes são sedativos. Provocam sedação, tonturas e relaxamento da musculatura corporal. Há alterações perceptivas do tempo e espaço, que se tornam mais pronunciadas de acordo com o grau de intoxicação. Zumbidos e sons grosseiros acompanham a intoxicação. O estado de humor é marcado pela labilidade, variando de risos imotivados e euforia até reações de medo, tristeza e pânico.


Riscos à saúde
Podem causar náuseas, vômitos, lapsos de memória ("brancos"), trazer complicações ao coração, como ataques cardíacos e causar convulsões. Os solventes alteram a percepção das coisas e deixam as pessoas expostas à acidentes.O contato com o líquido pode causar queimaduras na pele e no interior dos órgãos (boca, língua, traquéia). O uso por longos períodos pode trazer lesões permanentes para o cérebro, entre elas a demência.
Os danos potenciais (agudos e crônicos) causados pelo consumo de inalantes são mais prováveis quando o início se dá precocemente e em ambientes de abandono e exclusão social.
Fonte: Site Álcool e Drogas sem Distorção (www.einstein.br/alcooledrogas) / NEAD - Núcleo Einstein de Álcool e Drogas do Hospital Israelita Albert Einstein

Maconha - Um dos tipos de drogas

Da esquerda para a direita, as folhas da Cannabis sativa, Cannabis indica e Cannabis sp

A Cannabis é um arbusto originário da Ásia e conhecido da humanidade há cerca de 6000 anos. Há duas espécies mais conhecidas: a Cannabis sativa e a Cannabis indica. O princípio ativo alucinógeno da maconha é o ?-9-Tetraidrocanabionol (THC). Essa substância encontra-se presente no óleo que recobre os brotos das cannabis fêmeas.


Arbustos de cânhamo.

Outros nomes
O nome genérico da cannabis é cânhamo. Há outros nomes, mas boa parte deles tem caráter puramente regional. No Brasil, a cannabis já foi denominada diamba e hoje o termo maconha é o mais utilizado. No Oriente , recebe nomes como ganja, dagga, charas, haxixe, bhang. Na América espanhola e nos Estados Unidos, o nome marijuana é o mais conhecido, mas há outros termos: grass, pot, tea, reefer, Mary Jane, weed.


Brotos e florescências da Cannabis. O óleo que os recobre é rico em THC.

Efeitos
A maconha é um alucinógeno. Há vários fatores que influenciam seus efeitos, tais como a concentração de THC na planta, a sensibilidade aos efeitos e experiências prévias do usuário e o ambiente do consumo. Em geral, o uso é seguido por alterações nos sentidos (visão, audição, olfato), cognitivas (pensamento, memória e atenção) e de humor. Há alterações da noção de tempo e espaço e ilusões (distorções na percepção de objetos reais) visuais e auditivas. O humor pode variar de um estado eufórico (marcado por risos imotivados, fala solta e sensação de bem-estar) à sintomas de mal-estar psíquico, como tristeza, sensação de pânico e perda do controle (medo de enlouquecer). O pensamento se lentifica e as associações de idéia ficam menos coerentes, tendendo à mudança de assunto ou à incapacidade de articular o pensamento com a mesma facilidade habitual. Há um aumento exagerado do apetite, voltado principalmente para o consumo de carboidratos ("larica").


Riscos à saúde
*A maconha piora a atenção e a concentração, aumentando os riscos de acidentes.
*Pode desencadear quadros agudos de pânico e paranóia.
*O uso em grandes quantidades e por longos períodos pode deixar a pessoa menos concentrada, sem objetividade e desmotivada.
*A maconha pode causar dependência.
*A maconha pode causar psicose em pessoas que já tinham predisposição para essa doença.
*A maconha pode causar câncer de pulmão.
Fonte: Site Álcool e Drogas sem Distorção (www.einstein.br/alcooledrogas) / NEAD - Núcleo Einstein de Álcool e Drogas do Hospital Israelita Albert Einstein

LSD - Um dos tipos de drogas


Algumas apresentações de LSD. A cartela picotada é o formato mais encontrado no Brasil [à direita, há dois pedaços inteiros e uma metade de uma cartela]. Outras apresentações possíveis são os comprimidos (micropontos), formas grafitosas e gelatinosas.

Outros nomes
Ácido, doce, AC, Antônio Carlos

Aparência
O LSD é líquido. No Brasil é comercializado em cartelas picotadas similares a um mata-borrão. Cada pequeno quadrado picotado recebe uma gota de LSD. Eles podem ser consumidos inteiros, divididos ao meio ou em quartos. Há ainda apresentações em forma de pontos, gelatinosas, grafitosas e líquidas, vendidas em conta-gotas . O consumo se dá pela via sublingual.


Apresentações líquidas. Uma gota equivale a um ponto de LSD. Essa apresentação tem-se tornado mais comum no meio brasileiro.

Efeitos
O LSD é talvez a mais ativa das substâncias que agem sobre o cérebro humano: a dose é diminuta (0,05 miligramas) e seus efeitos, duradouros (4 a 10 horas). Os efeitos aparecem cerca de 30 minutos após a absorção sublingual. Há alterações na percepção, principalmente de caráter visual e auditivo, além de aceleração e desorganização do pensamento (idéias soltas e perda do foco do pensamento). O humor torna-se lábil, isto é, pode variar de situações de grande euforia a quadros de extremo mal-estar, marcados por tristeza e medo. Falhas na avaliação da realidade por vezes podem produzir sintomas paranóides (idéias de perseguição), usualmente momentâneos e restritos ao período da intoxicação. Apesar da denominação, os alucinógenos raramente produzem alucinações (imagem sem objeto), mas sim ilusões (distorções perceptivas de um objeto real). Tais ilusões (visuais, auditivas, táteis,...) tendem a se misturar, num fenômeno denominado sinestesia (mistura de sensações).

Ilustração comparativa. Por essa é possível notar o tamanho diminuto das apresentações de LSD.

Riscos à saúde
*Podem acontecer 'viagens de horror' (bad trips), marcadas por pânico e paranóia;
*Interpretações incorretas da realidade podem levar a acidentes, algumas vezes fatais;
*O LSD pode desencadear quadros psicóticos permanentes em pessoas predispostas a essas doenças.
Fontes: Site Álcool e Drogas sem Distorção (www.einstein.br/alcooledrogas) / NEAD - Núcleo Einstein de Álcool e Drogas do Hospital Israelita Albert Einstein

Ecstasy & Club Drugs - Um dos tipos de drogas


Quatro fases do consumo de drogas pela humanidade. Na primeira, restrito ao uso de plantas psicoativas; na segunda utilizando o princípio ativo retirado dos vegetais; na terceira, a produção de drogas totalmente sintéticas (tais como as anfetaminas) e por fim a modificação de moléculas para obter drogas com efeitos específicos, tais como as metanfetaminas.
As drogas da era sintética: designer drugs ou club drugs
As primeiras experiências humanas com substâncias psicoativas deram-se por meio do consumo de plantas. A partir do século XIX o homem conseguiu isolar o princípio ativo vegetal (alcalóide), mas continuava a depender das plantas. Uma terceira etapa começou no final dos anos vinte, com o surgimento das anfetaminas. Pela primeira vez, uma substância psicoativa fora sintetizada totalmente em laboratório, sem precursores vegetais. Uma última etapa começou nos anos oitenta: a popularização das designer drugs. Designer significa desenhar, projetar.
Essas drogas têm como característica essencial o fato de terem sido modificadas em laboratório, com o intuito de potencializar ou criar efeitos psicoativos ou evitar efeitos indesejáveis. A disponibilidade e o barateamento tecnológico permite hoje que tais drogas sejam sintetizadas com facilidade em laboratórios clandestinos domésticos.
Tais substâncias começaram a ganhar notoriedade nos anos oitenta, a partir de seu consumo dentro dos dance clubs e das raves. Seus freqüentadores, conhecidos por clubbers, consumiam tais substâncias, embalados pelo efeito 'bate-estaca' da música eletrônica, num ambiente marcadamente colorido e sintético. Os ideais de "amor", "paz" e "unidade", como no psicodelismo do movimento hippie dos anos 60, estão comumente associados ao consumo de designer drugs ou club drugs, como o ambiente sugere.Inicialmente associada exclusivamente ao ecstasy, a família das club drugs foi aumentando. Isso se deveu à recuperação de antigas substâncias, esquecidas ou em desuso, e ao surgimento de novas.
Designer drugs ou club drugs
Álcool
MDMA (ecstasy)
LSD
GHB & GBL
2CB & 2-CT-7
4MTA
PMA & PMMA
Quetamina (Special K)
Nitratos (poppers)
Fentanil
Rohypnol®
Anfetaminas & metanfetaminas
Dance Clubs & Clubbers. Nas palavras de Hermano Viana, "as raves são os espaços menos esotéricos e mais internacionais , em que o êxtase é produzido em massa. As raves não são um universo homogêneo. Uma infinidade de estilos musicais (tecno, garage, acid house, trance, ambient, goa trance, acid jazz, jungle, trip hop, entre tantos outros) embala o "transe" [eletrônico] de dançarinos de todo o planeta

Excluídos os bem conhecidos álcool, Rohypnol® (flunitrazepam), Fentanil e anfetaminas, uma série de substâncias batizadas com as letras de suas fórmulas químicas se nos apresenta. Seus nomes sugerem algo futurista, massificado. A primeira vista parece haver impessoalidade. Letras e siglas capazes de alterar a mente, dentro de um ambiente por si só extravagante, psicodélico e sensual. Uma aproximação faz ver que tais substâncias possuem apresentações temáticas, que personalizam e proporcionam intimidade para as relações entre a droga e seus usuários.

O ecstasy (3,4 metilenodioxi-N-metanfetamina) é a substância que mais se associa às club drugs. A droga foi sintetizada e patenteada em 1912 (Laboratórios Merck), mas só foi utilizada no final dos anos sessenta, quando o professor da Universidade de Berkeley, Alexander Shulgin, começou a utiliza-la como um auxiliar psicoterápico. Tal modo de uso foi proibido durante os anos setenta. A partir daí, o ecstasy ganhou as ruas, para se tornar popular a partir de meados dos anos oitenta, dentro das raves. O primeiro relato de morte atribuído à substância apareceu em 1987. O ecstasy é uma droga sintética derivada da anfetamina, com propriedades estimulantes e alucinógenas, por isso denominada de "anfetamina psicodélica". Os usuários relatam que o ecstasy é capaz de causar bem-estar, conforto, empatia e conecção com outros. Por outro lado, complicações como a hipertermia, desidratação, hiponatremia, blackouts e exaustão (tendo alguns casos evoluído para a morte) já foram relatados. Suas propriedades neurotóxicas foram sendo demonstradas ao longo dos anos noventa. O sistema serotoninérgico, responsável pelo controle do humor e dos impulsos, parece ser o mais atingido e lesionado pelo consumo repetido da substância. O ecstasy é capaz de causar dependência.
Comprimidos de ecstasy. Cada comprimido possui um nome. Na primeira linha, o terceiro da esquerda para a direita é o Lips (Lábio). Na segunda linha, estão a Blue Star (Estrela Azul) e o Sunshine (Raio de Sol).
O LSD (dietilamida do ácido lisérgico) é talvez o alucinógeno psicodélico mais comum em nosso meio. Sintetizado em 1938, teve suas propriedades alucinógenas descobertas em 1943. Utilizado amplamente nos anos sessenta como 'expansor da mente' em sessões psicoterápicas. Proibido desde o final da mesma década, apresentou um declínio, para retornar novamente durante os anos oitenta e permanecer desde então.
O quadro desencadeado caracteriza-se por aceleração do pensamento, surgimento de ilusões e alucinações visuais, auditivas e táteis e um sinergismo de sensações ("as cores têm som e os sons têm cor"). Sintomas de pânico e quadros paranóides (viagens de horror ou bad trips) podem ocorrer. Indivíduos predispostos podem evoluir com transtornos esquizofreniformes.
Cartelas de LSD. Forma mais comumente encontrada no Brasil. O LSD é líquido. As cartelas de LSD são divididas em quadrados picotados, sobre os quais se deposita uma gota da substância, modo pelo qual é comercializada.
O GHB (gama-hidroxibutirato) foi utilizado como anestésico nos anos 60, mas abandonado devido a efeitos indesejáveis. Ele foi utilizado como suplemento alimentar entre fisiculturistas nos anos oitenta e como club drug desde os anos noventa. O GHB é uma substância sedativa do sistema nervoso central. Sua apresentação mais comum é na forma de sal (NaGHB ou KGHB). Seu precursor bioquímico é o GLB (gama-butirolactona), também consumido com os mesmos propósitos.
Ele é utilizado normalmente diluído em água e os efeitos são semelhantes aos do álcool. Seus efeitos começam cerca de 20 minutos após a ingestão oral. Doses elevadas causam tonturas, incoordenação motora, náuseas e vômitos e rebaixamento do nível de consciência. A grande preocupação é a potência da substância: mesmo em pequenas dosagens pode causar intoxicações intensas, comatosas. Dosagens mais elevadas podem ser fatais. A combinação de GHB com álcool é extremamente perigosa, podendo levar ao coma com mais facilidade. Como a apresentação líquida tem concentrações indeterminadas, a chance uma overdose acidental aumenta. Como a droga é ainda pouquíssimo estudada, pouco se sabe sobre sua dependência. Há, no entanto, relatos de síndrome de abstinência severas, com duração de vários dias.
Apresentação de GLB em cápsulas [à esquerda] e GHB em pó [à direita].

As substâncias 2C-B (4-bromo-2,5-dimetoxifenetilamina), juntamente com o 2C-T-7 (2,5-dimetoxi-4(n)-propiltiofenetilamina) são psicodélicos desenvolvidos por Alexander Shulgins durante os anos setenta. A primeira é conhecida por Nexus ou Bromo. Apesar de pouco conhecidos, voltaram a ser utilizados na Europa em locais isolados. Seu efeito é bastante semelhante ao LSD. No entanto, efeitos colaterais gastro-intestinais (náuseas, vômitos, diarréia) e sintomas de pânico e confusão mental não são infreqüentes e podem expor tais usuários a situações perigosas.
Tubos contendo apresentações em pó de 2C-B [à esquerda] e 2C-T-7 [à direita].

O 4-MTA (metiltioanfetamina) é uma anfetamina modificada, menos potente que as anfetaminas convencionais. A substância foi desenvolvida por Dave Nichols (Purdue University) nos anos setenta. A ocorrência de mortalidade relacionada a 4-MTA (provavelmente por sua afinidade serotoninérgica) desencorajou novos estudos. A presença da substância já foi detectada na Holanda, Inglaterra, Alemanha e Portugal.





Comprimidos de 4-MTA.

O PMA (para-metoxianfetamina) e o PMMA (para-metoximetilanfetamina) são anfetaminas modificadas. Suas características, no entanto, tornam mais provável a ocorrência de hipertermia e diversas mortes por overdose já foram relatadas. A substância tem sido vendida como ecstasy, sob a forma de comprimidos da marca Mitsubishi, preocupando órgãos governamentais e de redução de danos.

Comprimidos de ecstasy "Mitsubishi". Comprimidos de PMA com a mesma cor e formato foram encontrados em alguns países da Europa e estados norte-americanos, sendo vendidos como ecstasy.


A quetamina (Special-K) tem chamado bastante a atenção dos profissionais da saúde brasileiros, tendo em vista que relatos do consumo dessa droga vêm se tornando mais comuns. A quetamina foi sintetizada nos anos 60. Trata-se de um anestésico incapaz de deprimir a freqüência respiratória e cardíaca. Apesar disso, suas propriedades psicodélicas acabaram por contra-indica-lo para seres humanos, ficando restrito para o uso veterinário.Em baixas doses produz sedação leve, pensamentos fantasiosos, com caráter de sonho, diminuição da atividade motora e alterações do humor (sensação de estar mais sociável e de captar o mundo de um modo diferente, podendo também aparecer reações depressivas e ansiosas). Naúses e vômitos são freqüentemente relatados. Sintomas paranóides e a percepção de um padrão de coincidências em tudo o que vêem podem ser observados em alguns indivíduos. Sedação pronunciada pode expor os usuários a riscos. Ao contrário da maior parte dos psicodélicos, a quetamina pode causar dependência.

Diversas apresentações de quetamina, um anestésico de uso veterinário com propriedades psicodélicas. A substância pode ser inalada ou injetada pela via intramuscular.
Os nitratos (óxido nitroso) são formas gasosas que quando inalados causam analgesia, euforia, sedação leve e por vezes sintomas psicodélicos. Suas propriedades são conhecidas desde o século XVIII, quando então tornou-se um dos primeiros anestésicos da história da Medicina. Nesse período foi denominado "gás hilariante".

Apesar de seguro quando utilizado com fins médicos, o gás hilariante pode causar complicações quando utilizado fora desse âmbito. Usuários pesados podem apresentar depleção de vitamina B12. Acidentes durante o consumo e sufocação já foram relatados. Padrões de uso compulsivo já foram descritos.

Óxido nitroso, o gás hilariante.

Por fim, as metanfetaminas. Elas são anfetaminas modificadas, fabricadas em laboratórios clandestinos, tendo alcançado alguma popularidade na Costa Leste dos EUA e nos países orientais. As primeiras metanfetaminas foram sintetizadas no Japão, em 1919. Podem ser consumidas por qualquer via. A via inalatória, no entanto, tem ganhado destaque.
Além de riscos agudos, tais como a overdose, o uso crônico pode levar à psicose anfetamínica, além de haver evidências sugestivas da neurotixicidade da substância. A dependência é sempre uma complicação para esses usuários.

Apresentações de metanfetaminas, podendo ser utilizadas por via oral, intranasal e inalatória.
Tidas como inofensivas nos primeiros tempos de seu consumo dentro das raves e dance clubs as drogas sintéticas trazem danos potenciais à saúde. O objetivo desse comentário foi o de atualizar os profissionais e interessados no tema acerca de algumas substâncias presentes no dia-a-dia de muitos indivíduos e que por vezes nos passa despercebidamente.
Fontes: Site Álcool e Drogas sem Distorção (www.einstein.br/alcooledrogas) / NEAD - Núcleo Einstein de Álcool e Drogas do Hospital Israelita Albert Einstein

Cogumelos - Um dos tipos de drogas



Os cogumelos do gênero Psilocibe. As propriedades alucinógenas do cogumelo Psilocibe mexicana [primeiro à esquerda] eram conhecidas pelos maias e astecas há pelo menos 3000 anos. Eles eram considerados sagrados e chamados de pequenas flores dos deuses. Há psilocibes em diversos países, inclusive no Brasil. O princípio ativo desses cogumelos é a psilocibina, um alcalóide cuja molécula é bastante semelhante ao LSD.

Outros nomes
Chá de cogumelo.

Aparência
Os cogumelos capazes de produzir viagens alucinógenas são de difícil identificação. Há quadro gêneros: Psilocibe, Panaeolus, Copelandia e Amanita. Os dois primeiros gêneros são encontrados no Brasil.

Efeitos
As substâncias contidas nos cogumelos são alucinógenas. O efeito é semelhante ao LSD, geralmente mais brandos e de duração mais curta. Há alterações na percepção, principalmente de caráter visual e auditivo, além de aceleração e desorganização do pensamento (idéias soltas e perda do foco do pensamento). O humor torna-se lábil, isto é, pode variar de situações de grande euforia a quadros de extremo mal-estar, marcados por tristeza e medo. Falhas na avaliação da realidade por vezes podem produzir sintomas paranóides (idéias de perseguição), usualmente momentâneos e restritos ao período da intoxicação. Apesar da denominação, os alucinógenos raramente produzem alucinações (imagem sem objeto), mas sim ilusões (distorções perceptivas de um objeto real). Tais ilusões (visuais, auditivas, táteis,...) tendem a se misturar, num fenômeno denominado sinestesia (mistura de sensações).


Os cogumelos do gênero Amanita, em especial o Amanita muscaria, são os mais conhecidos. Eles possuem um aspecto colorido e psicodélico bastante característico. É o mais relacionado aos cogumelos alucinógenos pelo público em geral.

Riscos à saúde
*Náuseas, vômitos e dor de estômago.
*Podem acontecer 'viagens de horror' (bad trips), marcadas por pânico e paranóia.
*Interpretações incorretas da realidade podem levar a acidentes, muitas vezes fatais.
*Podem desencadear quadros psicóticos permanentes em pessoas predispostas a essas doenças.
*A ingestão de cogumelos errados pode causar intoxicações graves e até mesmo fatais.

Fontes: Site Álcool e Drogas sem Distorção (www.einstein.br/alcooledrogas) / NEAD - Núcleo Einstein de Álcool e Drogas do Hospital Israelita Albert Einstein